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Crónica do Festival – Parte IX

Chegados à recta final deste quarto de século do Festival Caminhos do Cinema Português, celebra-se a variedade criativa das curtas da 7ª arte nacional.

Isto porque – exceptuando-se “Caminho de Casa” de Arlindo Orta, o cardápio deste último dia está repleto de curtas-metragens, entre as quais se assinala o regresso de Teresa Villaverde com “Où en êtes-vous, Teresa Villaverde?“, um documentário que pelo título poderia dar aparências de auto-biográfico.. mas, como a realizadora já nos habituou, trata-se somente de olhar pessoal não sobre a cineasta, mas sim sobre o Carnaval do Rio o desfile que a Escola da Mangueira fez em homenagem a Marielle Franco.

De facto, o formato curta denota-se como o mais popular de entre os autores cinematográficos de Portugal e os Caminhos deste ano não desmentem tal tendência. No entanto, aponta-se é um número menor de projectos de animação, embora o género se mantenha vivo com curtas como “Moulla” de Rui Cardoso, “O Peculiar Crime o Estranho Sr. Jacinto” de Bruno Caetano e “Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre” de Gabriel Abrantes. Esta última curta – que figurou na cerimónia de abertura – embora não seja totalmente de animação, envereda por uma mistura de animação computadorizada com imagem real, talvez um sinal de que os criadores de animação em Portugal estejam a preparar-se para abraçar as técnicas do CGI.

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Crónica do Festival – Parte VIII

Vicente Alves do Ó é um cineasta com uma evolução muito peculiar, no sentido em que foi gradualmente criando e evoluindo um nome e respectiva marca de autor através dos trabalhos de bastidores. Através de guiões para telefilmes como “Monsanto” de Ruy Guerra ou “Facas e Anjos” de Eduardo Guedes, eventualmente inovou a sua lírica para o grande ecrã, onde assinou os argumentos para grandes sucessos de bilheteira como “Os Imortais” de António-Pedro Vasconcelos e “Kiss Me” António da Cunha Telles. Em 2005, dá o grande salto para a cadeira de realizador com a curta “Entre o Desejo e o Destino” e tal assento revela-se imediatamente confortável na sua faceta de esteticista narrativo. Isto porque apesar dos seus primórdios se situarem na escrita, Alves do Ó afirma-se acima de tudo como um autor com o visual em primeiro plano.

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Crónica do Festival – Parte VII

A maneira como “História Secreta da Aviação” de João Manso e “Campo” de Tiago Hespanha – os dois filmes exibidos ontem à noite no TAGV – se coadunam é prova como as produtoras nacionais como a Terratreme procuram edificar uma marca distinta e contínua por entre os trabalhos autoriais que promovem. Além disso, serve igualmente como sinal do empenho da programação dos Caminhos do Cinema Português em conjugar trabalhos cuja consonância lírica seja merecedora de destaque.

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Crónica do Festival – Parte VI

O final do dia de ontem permitiu um dos maiores voltefaces do Caminhos deste ano. Por motivos alheios à organização do Festival, o filme “Serpentário“, de Carlos Conceição foi retirado do cartaz e da competição. Em substituição, foi exibido o filme “Mutant Blast“, uma paródia de z***ies co-produzido pela norte-americana Troma que homenageia os inícios cartoonescos de Peter Jackson. Tendo já figurado na sessão Turno da Noite no sábado passado, a longa-metragem de Fernando Alle é assim promovida ao horário de destaque e ao estrato competitivo do Caminhos. Teve igualmente a honra de ser precedida pela curta “Invisível Herói” de Cristèle Alves Meira, que marcou presença no TAGV juntamente com o protagonista Duarte Pina para uma sessão de conversa com o público que se revelou calorosa e intimista.

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Crónica do Festival – Parte V

No que toca a escala, o imaginário dos cineastas sempre se viu limitado ao orçamento e não há campo que sofra tanto isso como o da ficção fantástica. Trata-se de projectos cuja propensão envolve à partida ambiciosos efeitos visuais, tal como manda e mandata a regra dos blockbusters americanos ou asiáticos desde a década de 50. Infelizmente, os limites do Instituto do Cinema e Audiovisual ou semelhantes instituições de apoio financeiro não permitem tal empreendimento visual a nível nacional. Ou sequer europeu.

Aliás, foi no velho continente que se originou um espécime cinematográfico que pega nas transcendências desse fantástico e molda as mesmas em torno da introspecção humana, de modo a fascinar em primeiro plano a alma e não tanto a visão, embora este último sentido não seja de todo ignorado. O cinema oriundo da então União Soviética foi notoriamente o primeiro a enveredar por tal abordagem mais filosófica. Com efeito, foram autores do outro lado da cortina de ferro como Karel Zeman ou Andrei Tarkovski que revolucionaram a estética estimulante da 7ª arte a cadências mais minimalistas.

Segue-se pois a década de 80, em que o cinema a nível global, temendo um futuro sem recursos monetários, começa-se afastar dos visuais futuristas e tecnológicos e a explorar precisamente os conceitos fatalistas da distopia pós-apocalíptica. Tais temáticas acordam com os temores que se vivenciavam do holocausto nuclear e do ser humano que, perante um mundo devasto, se vê reduzido à sua determinante convicção survivalista. Embora popularizado pela franquia “Mad Max” do australiano George Miller, muitos outros autores como Luc Besson (em “O Último Combate”) ou Andrzej Zulawski (com “On the Silver Globe”) deram seguimento a cenários distópicos mais pautados ou meditativos.

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Crónica do Festival – Parte IV

A chuva pela cidade de Coimbra não dissuadiu o público do Festival Caminhos que, na sessão de ontem de “Vitalina Varela“, se mostrou receptiva à presença de Leonardo Simões, director de fotografia do filme. O habitual colaborador de Pedro Costa – distinguido há um par de dias com o prémio de Melhor Fotografia do Festival Gijón – participou numa sessão de perguntas do público após o filme, esclarecendo alguns pormenores acerca dos bastidores da sua imagética. Um diálogo que serve enquanto exemplo de como o Festival Caminhos permite criar pontes entre os espectadores defronte o ecrã os artistas por detrás das câmaras. E após tal dia melancólico cujo clima pluvioso acentuou o caracter contemplativo do cinema de Pedro Costa, os Caminhos de hoje prometem apressar o passo com tons mais animados. Aliás, é precisamente uma obra de animação que abre este dia: “O Peculiar Crime do Estranho Sr Jacinto” que, após a sua estreia no Cinanima em Espinho, chega a Coimbra às 15h no TAGV. Trata-se de uma curta-metragem assinada por Bruno Caetano já há muito aguardada, dado que a técnica do stop-motion a que recorre tem caído algo em desuso, tornando-se cada vez mais refrescante rever este artifício de animação. Como ponto de contemporaneidade, a narração desta curta de temática ecológica está a cargo de Sérgio Godinho.

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