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Crónica do Festival – Parte IV

A chuva pela cidade de Coimbra não dissuadiu o público do Festival Caminhos que, na sessão de ontem de “Vitalina Varela“, se mostrou receptiva à presença de Leonardo Simões, director de fotografia do filme. O habitual colaborador de Pedro Costa – distinguido há um par de dias com o prémio de Melhor Fotografia do Festival Gijón – participou numa sessão de perguntas do público após o filme, esclarecendo alguns pormenores acerca dos bastidores da sua imagética. Um diálogo que serve enquanto exemplo de como o Festival Caminhos permite criar pontes entre os espectadores defronte o ecrã os artistas por detrás das câmaras. E após tal dia melancólico cujo clima pluvioso acentuou o caracter contemplativo do cinema de Pedro Costa, os Caminhos de hoje prometem apressar o passo com tons mais animados. Aliás, é precisamente uma obra de animação que abre este dia: “O Peculiar Crime do Estranho Sr Jacinto” que, após a sua estreia no Cinanima em Espinho, chega a Coimbra às 15h no TAGV. Trata-se de uma curta-metragem assinada por Bruno Caetano já há muito aguardada, dado que a técnica do stop-motion a que recorre tem caído algo em desuso, tornando-se cada vez mais refrescante rever este artifício de animação. Como ponto de contemporaneidade, a narração desta curta de temática ecológica está a cargo de Sérgio Godinho.

Crónica do Festival

No entanto, a voz do cantautor não será a única tónica revolucionária a fazer-se sentir no Caminhos de hoje, pois se há data histórica marcante no cinema de Portugal, trata-se do 25 de Abril de 1974, pois a Revolução dos Cravos não só veio reclamar a liberdade, como a mesma se tem mantido viva nos recantos artísticos de cariz nacional e o cinema documental não é excepção. Embora a grande maioria dos autores têm enveredado nas suas películas a críticas mais apontadas aos problemas e injustiças de hoje, José Filipe Costa tem-se destacado pela sua abordagem de recriar cenas e cenários da Revolução de Abril, de maneira a recordar e ressuscitar o espírito de revolta e indignação desses tempos. Assim, no seguimento do seu “Linha Vermelha“, o realizador regressa com “Prazer, Camaradas“, onde enquadra um retrato descritivo das cooperativas das herdades ocupadas em Portugal no pós-25 de Abril. É assim a figura de destaque de hoje, recebendo o horário nobre das 21:45 no TAGV, mas é favor não menosprezar os horários das sessões anteriores. Além da acima referida curta “O Peculiar Crime do Estranho Sr Jacinto“, há também metragens documentais centradas nas figuras do escritor Mia Couto (“Sou Autor Do Meu Nome Mia Couto”, de Solveig Nordlund) e da geógrafa Suzanne Daveau (“Suzanne Daveau”, De Luísa Homem).

Crónica do Festival

Pedro Nora