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Selecção Outros Olhares (2019)

“A única coisa verdadeira é a memória. A memória é uma invenção, no cinema a câmara pode fixar um momento, mas esse momento já passou, no fundo o que ele traça é um fantasma desse momento e já não temos a certeza se esse momento existiu fora da película. Ou a película é uma garantia da existência desse momento?”
É com estas palavras que o decano dos realizadores portugueses de então, Manoel de Oliveira irrompe no filme de 1994 Lisbon Story de Wim Wenders. A questão da memória e a sua relação com o cinema é uma questão essencial para compreender as bases onde o cinema documental acenta. Quando Niépce captou a que hoje consideramos a primeira fotografia da história por volta de 1826 e mais tarde os irmãos Lumière em 1895 ao produzirem pela primeira vez a imagem em movimento teriam eles noção do impacto em que teriam para a humanidade e para a noção desta de memória?

Podemos considerar o século XX como o século mais bem conhecido pelos historiadores, não apenas pelo facto de ser o mais próximo de nós, mas de igual modo pela existência da recente fotografia e do cinema, meios que davam os primeiros passos e tentavam encontrar o seu espaço dentro do meio artístico mas que porém já se mostravam de grande importância no captar da realidade. Pela primeira vez, gerações poderiam ver os seus antepassados como exactamente eram, pela primeira vez estas mesmas poderiam congelar as suas próprias memórias com o boom das câmeras descartáveis e dos filmes caseiros.

No seu último filme, Agnès Varda afirma que o cinema não congela o presente, mas acompanha-o. Através do cinema podemos observar de perto as mudanças políticas, económicas e sociais do mundo no espaço temporal de mais de 100 anos estando este sempre lado a lado quando essas mesmas mudanças ocorriam. Podemos absorver as mudanças do espaço citadino com a revolução industrial com a Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança de Aurélio Paz dos Reis, como o grito de liberdade de várias gerações portuguesas esperançosas em As Armas e o Povo, documentário autoral de nomes importantes no cinema documentário como Glauber Rocha ou Fernando Lopes.

2019. Que momentos estará o cinema a acompanhar? Este ano em Outros Olhares acompanhamos a multiculturalidade do nosso país, o confronto entre uma geração de novas ideias e de uma geração marcada pela tradição. Acompanhamos um país a ressurgir de uma crise económica e política porém ainda a sofrer com alguns resultados desta mesma. Acompanhamos uma crescente preocupação ambiental como de igual modo acompanhamos o próprio cinema.

Marcelo Ventura

Título Realizador Categoria Duração
(Im)Permanência do Gesto Manuel Botelho documentário 0:26:00
À Tona Filipe Abranches Animação 0:10:55
A Volta ao Mundo Quando Tinhas 30 Anos Aya Koretzky documentário 1:56:00
Actos de Cinema Jorge Cramez documentário 1:56:00
Batida de Lisboa Rita Maia, Vasco Viana documentário 1:16:00
Declive Eduardo Brito Ficção 0:07:00
Despiste Francisco Noronha documentário 0:28:00
Disaster Zone (for A. T.) Jerónimo Rocha experimental 00:11:20
Estas Mãos São Minhas André Miguel Ferreira documentário 0:08:00
Ex-Venus in Furs João Martinho documentário 0:16:11
Fade Into Nothing Rita Lino, Pedro Maia, Paulo Furtado experimental 1:10:19
Infância, Adolescência, Juventude Rúben Gonçalves documentário 1:36:01
Lusitano Clube 111 anos e 10 dias Ricardo Reis e Nuno Gervásio documentário 0:40:00
Mysteries of the Wild Rui Veiga Animação 0:10:34
Náufragos Pedro Neves documentário 0:13:30
O Caminho de Casa Arlindo Horta documentário 1:58:00
Six Portraits of Pain Teresa Villaverde experimental 0:25:30
Sol Negro Maureen Fazendeiro experimental 0:07:00
Um Ramadão em Lisboa vários documentário 1:08:20
Vadio – Não Sou Poeta Stefan Lechner documentário 1:36:05