No dia 30 de Novembro entregaram-se os prémios da XXV edição dos Caminhos do Cinema Português. A cerimónia começou às 21h45 no Teatro Académico de Gil Vicente contando com o acompanhamento musical da Big Band Rags, da Tuna Académica de Coimbra.
Selecção “Outros Olhares”, Júri constituído por António Pedro Pita, Cristina Janicas e Rita Alcaire. Deliberou que o melhor filme desta secção é:
Actos de Cinema, de Jorge Cramez, é uma magnífica deambulação por uma memória do cinema feita de apuro estético, exigência política e intensa afetividade, devolve objetos perdidos à sua expressividade e constitui, por isso, uma aliciante reinvenção do cinema.
Júri de Imprensa Cision, constituído por Cláudia Sobral, Filipa Queiroz e Sara Afonso, decidiu, por unanimidade, atribuir o prémio de Imprensa CISION a:
Fordlandia Malaise, de Susana de Sousa Dias, numa melancolia latente, alimentada pelo preto e branco das imagens, Susana de Sousa Dias mergulha num período marcante da vida da Amazónia. Sem se impor, a realizadora embala-nos através dos sons da selva viva enquanto nos guia pela paisagem industrial dos despojos de Fordlandia, uma cidade fantasma num território consumido pela devastação de terras e da identidade de um povo indígena, em prol de um progresso industrial que se revelou um fracasso. Através de fotografias de arquivo e de imagens aéreas, Susana de Sousa Dias recorre ao passado para mapear um presente quase distópico, que pode ser lido como premonição para o futuro. Uma reflexão pertinente, tanto do ponto de vista antropológico como da atualidade. Num intrincado diálogo entre a imagem captada, a que é descrita e a que é imaginada, em Fordlandia Malaise cada opção estética serve de forma meticulosa a narrativa. É um filme delicado mas assertivo, pertinente e factual, e que deixa espaço à poesia, ao mito e aos sentimentos.
Menção Honrosa atribuída a Past Perfect, de Jorge Jácome, o júri decidiu, igualmente, atribuir uma menção honrosa a Past Perfect pela sua subtileza, audácia criativa e inteligência artística. Conjugando imagens que, parecendo ao acaso são assertivas e precisas, e legendas em forma de questões e respostas, Jorge Jácome leva-nos numa viagem regressiva à procura de uma era dourada. É um filme carregado de sentido de humor e de ideias que pedem uma segunda e terceira visitas, ainda que apenas pelo mero prazer de serem absorvidas de novo, como se houvesse sempre mais um pormenor à espera de ser revelado. Entre o poder hipnótico das imagens e as palavras de uma voz silenciosa impossível de ignorar, ao traçar uma geografia da melancolia, Past Perfect reflete sobre a razão da nostalgia: a tentativa de encontrar um pretérito perfeito num presente imperfeito.
Seleção Ensaios, Júri constituído por Catarina Neves Ricci, Pedro Ribeiro e Tiago Afonso. Deliberou:
Ensaio Internacional
Menção Honrosa: La Llorona, de Rosana Cuellar
La Llorona é uma super produção que cumpre, e bem, na opinião do júri, aquilo a que se propõe.
Surpreende o universo surrealista, repleto de referências folclóricas, que trabalha a narrativa de ficção mais clássica, a tragédia, e o musical.
É um filme que claramente arrisca, e para o júri de forma bem sucedida. Saudamos por isso o risco, a mescla de géneros, e a sua narrativa.
Melhor Ensaio Internacional: Day Release, de Martim Winter
Decisão unânime por parte do júri. Freigang (A Day Release) cativa desde o primeiro minuto, transportando-nos de imediato para a intimidade de Kathi – jovem mãe, presa, e que tem um dia para ir a casa. Bem dirigido, soberbamente bem interpretado pela actriz que carrega quase sozinha toda a história, Anna Suk, o filme destaca-se em quase todas as categorias: realização, elenco, som, montagem, de forma directa, sem artifícios. 35 minutos que nos deixaram com um soco no estômago.
Ensaio Nacional
Menção Honrosa: Ode à Infância, de Luís Vital, João Monteiro
Ode à infância é uma belíssima animação por si só. Surpreendeu o júri pela técnica do seu desenho, pela eficácia e bom gosto das suas cores, e pela rapidez com que nos fez sonhar. Notável construção.
Melhor Ensaio Nacional: Quem me dera em vez de uma câmera ter uma mosca, de Cláudia Craveiro Santos
Partindo de, e gravitando em torno, de um poema extraordinário de José Diogo Nogueira, o filme é construído com enorme sensibilidade na imagem e montagem.
Tanto o material de arquivo como o material filmado correspondem, para o júri, às intenções a que a realizadora se propôs, fazendo sobressair uma construção narrativa bonita, poética, e sensível, sobre cinema e criação.
Seleção Caminhos
Júri da Federação Internacional de Cineclubes, após convocação a cineclubes de todo o mundo é constituído por: Bruno Fontes (Portuguesa), Sarah Adam (Alemã) e Toni Cuadras (Catalão). Deliberou, na atribuição do Prémio D. Quijote:
Menção Honrosa: A Raposa, de Leonor Noivo
Pela forma como trata temas que nos afetam enquanto sociedade através de uma conceção visual arriscada que intercruza reflexões pessoais e fílmicas que, apesar de perturbadoras, transmitem sentimentos plenos de coragem e de vida.
Prémio D. Quijote: Cerro dos Pios, de Miguel de Jesus
Pelo modo como o cineasta, procurando imagens, sentimentos e afetos, convida o espetador para uma viagem espacial e fílmica na qual partilha os seus medos e inseguranças. Aquilo que nos surge como se fosse apenas um diário por imagens onde a câmara parece ser colocada ao acaso revela-se afinal um ensaio fílmico com uma montagem exímia que convoca motivos como a complexidade das relações humanas.
Júri Caminhos constituído por Carla Vasconcelos, Hugo Van Der Ding, João Telmo, Lucinda Loureiro e Paulo Carneiro. Deliberou que:
Prémios Técnico Artísticos
Menção Especialíssima para Efeitos Especiais: Fernando Alle pelo seu filme Mutant Blast
Melhor Som: David Badalo, pelo filme Alva, de Ico Costa
–O Som é a outra personagem.
Melhor Realizador: Pedro Filipe Marques, pelo seu filme Viveiro
–Para cada plano só existe uma posição de câmara. Planos do Catano.
Melhor Montagem: Francisco Moreira e Ana Godoy, pelo filme Alva, de Ico Costa
–Exímio trabalho de elipse.
Melhor Guarda-Roupa: Patrícia Dória, pelo filme Variações, de João Maia
–Recriação da realidade ao pormenor.
Melhor Fotografia: Leonardo Simões, pelo filme Vitalina Varela, de Pedro Costa
–Simbiose com o realizador.Pintor.
Melhor Direção Artística: Ana Bossa, pelo filme Último Acto de Maria Hespanhol
-Transporta para fora o que a personagem tem dentro.
Melhor Cartaz: Inês Bento, pelo filme Ruby de Mariana Gaivão
-Uau, 70×100.
Melhor Caracterização: Magalí Santana, pelo filme Variações, de João Maia
-Recriação da realidade ao pormenor.
Melhor Banda Sonora Original: Normand Roger, pelo filme Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias, de Regina Pessoa
-Ótimo, semi fusa,fusa.
Melhor Argumento Original: José Filipe Costa, pelo seu filme Prazer, Camaradas!
-Criativa e inesperada visão do pós revolução.
Melhor Argumento Adaptado:Manuel Moreira e Bruno Caetano, pelo filme O Peculiar Crime do Estranho Sr. Jacinto, de Bruno Caetano.
-O nome do prémio justifica o próprio prémio.
Melhor Atriz Secundária:Teresa Madruga, pelas prestações nos filmes Variações, de João Maia, e, Dia de Festa de Sofia Bost.
-Todas as famílias felizes são iguais, todas as famílias infelizes são infelizes.
Melhor Atriz: Vitalina Varela, no filme homónimo de Pedro Costa.
-Vitalina supera-se a si mesmo.Deixamos de olhar para a sua vida e passamos a ver a vida de tantas mulheres.
Melhor Ator Secundário: Filipe Duarte, pelo filme Variações, de João Maia
-Cúmplice, terno, elegante, intenso.
Melhor Ator: Sérgio Praia, pelo filme Variações, de João Maia
-Não faz de. É.
Prémios Oficiais
Prémio Revelação: Maria Abreu, no filme Tristeza e Alegria na Vida das Girafas, de Tiago Guedes
-De igual para igual com os atores com quilômetros de rodagem.Citando o Urso: Merda, Merda, Merda.
Prémio Melhor Animação: Peculiar Crime do Estranho Sr Jacinto, de Bruno Caetano
-Um regresso à infância. Uma alegoria sobre o nosso mundo. Não lixes a natureza antes que ela te lixe a ti.
Prémio Melhor Documentário Universidade de Coimbra: Fordlandia Malaise, de Susana de Sousa Dias
-Frame a frame sentimos todos os que habitaram os edifícios que vemos do alto como un vol d’oiseau.
Prémio Melhor Curta-Metragem: Ruby, de Mariana Gaivão
-Uma pedra preciosa.
Prémio Melhor Ficção GesMo:Alva, de Ico Costa
-Um filme sem artifícios. Belo, fluido como as águas do rio. Misterioso.
Grande Prémio do Festival: Vitalina Varela, de Pedro Costa
-Um quadro de pintura. Poético. Uma obra prima. Rembrandt é realizador.
Prémio do Público Chama Amarela:
Quero-te Tanto, de Vicente Alves do Ó
Palmarés por filme:
Menções Honrosas
A Raposa, de Leonor Noivo:
Menção Honrosa Júri da Federação Internacional de Cineclubes
La Llorona, de Rosana Cuellar
Menção Honrosa Júri Seleção Ensaios
Mutant Blast, de Fernando Alle
Menção Especialíssima para Efeitos Especiais
Ode à Infância, de Luís Vital e João Monteiro:
Menção Honrosa do Júri Ensaios para Ensaio Nacional
Past Perfect, de Jorge Jacome:
Menção Honrosa do Júri de Imprensa CISION
Prémios
Actos de Cinema, de Jorge Cramez:
Melhor Filme Selecção Outros Olhares
Cerro dos Pios, de Miguel de Jesus
Prémio D. Quijote da Federação Internacional de Cineclubes
Day Release, de Martin Winter:
Melhor Ensaio Internacional
Prazer, Camaradas!, de José Filipe Costa:
Melhor Argumento Original, para José Filipe Costa
Quem me dera em vez de uma câmara ter uma mosca, de Cláudia Craveiro Santos
Melhor Ensaio Nacional
Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias, de Regina Pessoa
Melhor Banda Sonora Original, para Normand Roger
Tristeza e Alegria na Vida das Girafas, de Tiago Guedes
Prémio Revelação para Maria Abreu, em Tristeza e Alegria na Vida das Girafas, de Tiago Guedes
Último Acto, de Maria Hespanhol:
Melhor Direção Artística, para Ana Bossa
Dia de Festa, de Sofia Bost:
Melhor Actriz Secundária, para Teresa Madruga (repartido com performance em Variações)
Viveiro, de Pedro Filipe Marques:
Melhor Realizador
Ruby, de Mariana Gaivão (2):
– Melhor Curta-Metragem
– Melhor Cartaz, para Inês Bento
Fordlandia Malaise, de Susana de Sousa Dias (2):
– Prémio de Imprensa CISION
– Prémio Melhor Documentário Universidade de Coimbra
O Peculiar Crime do Estranho Sr. Jacinto, de Bruno Caetano (2):
– Melhor Argumento Adaptado
– Melhor Documentário Universidade de Coimbra
Alva, de Ico Costa (3):
– Prémio Melhor Ficção GesMo
– Melhor Montagem
– Melhor Som
Vitalina Varela, de Pedro Costa (3):
– Grande Prémio Festival
– Melhor Atriz, para Vitalina Varela
– Melhor Fotografia, para Leonardo Simões
Variações, de João Maia (5):
– Melhor Actriz Secundária, para Teresa Madruga (repartido com performance em Dia de Festa)
– Melhor Actor, para Sérgio Praia
– Melhor Actor Secundário, para Filipe Duarte
– Melhor Caracterização, para Magalí Santana
– Melhor Guarda Roupa, para Patrícia Dória