Ver cinema é abrir os olhos para um mundo novo que se abre à nossa frente. Para que se veja claramente por essa janela, é necessária uma ligação imaginária entre quem vê o filme e as imagens que são projectadas em tela. Essa ligação é fornecida pelo movimento, isto é, pelas imagens cinemáticas que nos fornecem também uma porta.
É preciso ver filmes para se conseguir entrar no mundo imagético do cinema português, e é precisamente isso que anualmente tentamos fazer – levar o maior número de pessoas possíveis a ver cinema produzido em território nacional.
Seleccionar e programar cinema português, no único festival que se dedica exclusivamente ao mesmo, implica um desafio constante para a programação. Seleccionar é estar atento e desperto às movimentações comerciais e não-comerciais dos filmes que são anualmente produzidos, mudando constantemente a nossa perspectiva de ver um programa e um festival de cinema. É tentar criar e recriar fórmulas (sempre imperfeitas) de fazer com que se troque o banco de casa ou do bar pelo de cinema, para que se aceda a esta combinação perfeita criada pelos realizadores portugueses de um mundo fílmico diferente, muitas vezes quase espiritual e expressivo.
É praticamente impossível hoje encontrar uma definição técnica e estética comum e exacta do que é o cinema português, o que nos leva sempre a um mergulho numa diversidade e pluralidade artísticas incomensuráveis. Para grande parte dos realizadores contemporâneos portugueses (com destaque para alguns mais jovens e já com destaque internacional), fazer cinema tem sido uma constante descoberta de novas formas, métodos e técnicas de o realizar, desprendendo-se e movendo-se em frente e não para junto de cânones do passado, daquilo que já foi feito e refeito.
Os próprios documentários nacionais não se centram num realismo em sentido estrito como defendia Rossellini (“As coisas estão ali, para quê manipulá-las?”), mas há uma introdução de uma estética e envolvimento muito pessoais que tornam o realizador num verdadeiro Autor, aquele que expande e conquista mentes. As ficções, sejam elas de pequena ou grande produção, continuam a ser sempre uma surpresa pelos seus conceitos, quase que funcionando por vezes como cinema de consciência e de alerta.
Há, porém, algo que merece referência na apresentação desta programação para que seja compreendido melhor o seu conceito. Em Portugal começa a existir uma abertura do cinema de, como sempre, seleccionar o melhor de “todo o cinema português”, para complementarmos aquilo que já se encontra disponível, mas também enaltecer as obras que de outra forma não teriam uma projecção pública e mediática que um festival como os Caminhos fornece. As sessões competitivas do festival Caminhos do Cinema Português são, assim, desenhadas de forma consciente a esta realidadese deixar levar por todas estas formas plurais de abordar cinema.
Reiteramos que não existem fórmulas perfeitas de programar cinema, mas parece-nos que este é o caminho mais justo tanto para o espectador (que espera algo que ainda não viu) como para o realizador (que vê a sua obra mediatizada e de fácil acesso a todos os interessados). É esta ponte que os Caminhos querem continuar a alicerçar – juntar os públicos com o(s) nosso(s) cinema(s).
Esperamos que a programação suscite interesse a todos os amantes do cinema em geral e do português em particular. Que todos possamos celebrar e viver esta magia emanada por esta festa dedicada ao melhor de todo o cinema português!
Até já,
João R. Pais
Filmes Seleccionados
Título | Realizador | Produtora | Duração | Género |
---|---|---|---|---|
Última Chamada | Sara Barbas | 9 | Animação | |
Água Mole | Laura Gonçalves e Alexandra Ramires (Xá) | 9 | Animação | |
A Gruta de Darwin | Joana Toste | 16 | Animação | |
Surpresa | Paulo Patrício | 9 | Animação | |
Das Gavetas Nascem Sons | Vitor Hugo | 6 | Animação | |
A Sonolenta | Marta Monteiro | 11 | Animação | |
A Tocadora | Joana Imaginário | 8 | Animação | |
Sete | Gustavo Sá | 3 | Animação | |
Freelancer * | Francisco Lacerda e Afonso Lopes | 15 | Curta Ficção | |
O Sapato * | Luis Vieira Campos | 5 | Curta Ficção | |
A Carga | Luís Campos | 15 | Curta Ficção | |
Ferro Sangue | Fábio Penela | 19 | Curta Ficção | |
Ao Telefone com Deus | Vera Casaca | 14 | Curta Ficção | |
O jardim dos caminhos que se bifurcam | João Cristóvão Leitão | 16 | Curta Ficção | |
Altas Cidades de Ossadas | João Salaviza | 19 | Curta Ficção | |
Nyo Vweta Nafta | Ico Costa | 21 | Curta Ficção | |
A Língua | Adriana Martins da Silva | 26 | Curta Ficção | |
Terrain Vague | Latifa Said | Bando à Parte | 14 | Curta Ficção |
Ubi Sunt | Salomé Lamas | 23 | Curta Ficção | |
Coup de Grâce | Salomé Lamas | 25 | Curta Ficção | |
Semente Exterminadora | Pedro Neves Marques | 28 | Curta Ficção | |
Coelho Mau | Carlos Conceição | 30 | Curta Ficção | |
Tudo o que Imagino | Leonor Noivo | 30 | Curta Ficção | |
Longe da Amazónia | Francisco Carvalho | 18 | Curta Ficção | |
Hei-de Morrer Onde Nasci | Miguel Munhá | 24 | Curta Ficção | |
Já passou | Sebastião Salgado | 16 | Curta Ficção | |
Flores | Jorge Jácome | 26 | Curta Ficção | |
O Homem de Trás-os-Montes | Miguel Moraes Cabral | 29 | Curta Ficção | |
O Turno da Noite | Hugo Pedro | 26 | Curta Ficção | |
Humores Artificiais | Gabriel Abrantes | 29 | Curta Ficção | |
Laranja Amarelo | Pedro Augusto Almeida | 10 | Curta Ficção | |
Câmara Nova * | André Marques | 9 | Curta Ficção | |
Farpões Baldios | Marta Mateus | 25 | Curta Ficção | |
Norley e Norlen * | Flávio Ferreira | 8 | Documentário | |
Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues? | João Pedro Rodrigues | 21 | Documentário | |
O Homem Eterno | Luís Costa | 15 | Documentário | |
Souvenirs | Paulo Martinho | 2 | Documentário | |
Qualquer coisa de belo | Pedro Sena Nunes | 10 | Documentário | |
Vou-me despedir do rio | David Gomes | 30 | Documentário | |
Notas de Campo | Catarina Botelho | 47 | Documentário | |
Tarrafal | João Paradela | 80 | Documentário | |
Nasci com a Trovoada – Autobiografia póstuma de um cineasta | Leonor Areal | 140 | Documentário | |
A Fábrica de Nada | Pedro Pinho | 176 | Documentário | |
Luz Obscura | Susana Sousa Dia | 76 | Documentário | |
Carta ao Meu Avô | João Nunes | 70 | Documentário | |
Quem é Bárbara Virginia? | Luísa Sequeira | 77 | Documentário | |
Rosas de Ermera | Luis Filipe Rocha | 125 | Documentário | |
António Um Dois Três | Leonardo Mouramateus | 95 | Longa Ficção | |
António e Catarina | Cristina Hanes | 40 | Longa Ficção | |
Al Berto | Vicentes Alves do Ó | 110 | Longa Ficção | |
A Mãe É Que Sabe | Nuno Rocha | 83 | Longa Ficção | |
Coração Negro | Rosa Coutinho Cabral | 105 | Longa Ficção | |
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