Com o tempo surgiram também movimentos, géneros e estilos cinematográficos que romperam com esta ideia da procura do naturalismo e de uma realidade ilusória do cinema. Podemos mencionar como exemplo o desenvolvimento do cinéma verité e a sua procura de retratar a verdade tal como ela é, sem qualquer tipo de manipulação, um cinema livre de encenação. É de observar as constantes quebras da quarta parede, o facto de o realizador entrar no filme, não como Orson Welles ou Keaton fariam no passado representando uma personagem, mas sim tal como é, ou o captar dos mecanismos do cinema (câmaras, luzes, o staff etc), eliminando a transparência do cinema: o público é distanciado da obra que assiste, não crê ver a realidade mas sim a representação da realidade. De igual modo, é importante referenciar o surgimento do cinema experimental com a sua procura da abstração de uma realidade concreta. Nesta edição do Festival Caminhos do Cinema Português introduzimos uma outra secção: “Outros Olhares”. Nesta criteriosa seleção procuraremos observar obras significativas da produção nacional nos parâmetros do documental e do experimental, permitindo assim, como a própria nomenclatura indica, que o público encontre outros e novos olhares que atualmente encaram o cinema e a realidade. Convidamos todos a experimentar o Cinema sob a égide de um outro olhar,
Marcelo Ventura,
Seleção Outros Olhares
Título
Realizador
Género
Produtora
Ano
Duração
Antes que a noite venha – Falas de Antígona
Joaquim Pavão
Longa Ficção
Filmografo
2018
00:39:34
Antígona
SillySeason
Curta Ficção
SillySeason
2018
00:13:44
Cimbalino
Jerónimo Rocha
Curta Ficção
take it easy film
2017
00:21:34
Exposição
Luis Azevedo
Curta Documentário
Kino Gang Films
00:11:22
Fernando Lemos
Rita Lopes Alves
Longa Documentário
Artistas Unidos
2018
01:16:10
Histórias de Fantasmas
Carlos Pereira
Curta Documentário
2018
00:13:32
Inside Hou8e
Margarida Rodrigues
Longa Documentário
——————–
2017
00:47:50
Lupo
Pedro Lino
Longa Documentário
Ukbar filmes
2018
01:14:30
Maria Sem Pecado
Mário Macedo
Curta Documentário
73collective
2016
00:28:16
Mother’s day
Rita Figueira
Curta Animação
Escola Superior de Media Artes e Design
2017
00:07:29
my hands are never empty
Miguel Munhá
Longa Documentário
DuplaCena
2018
01:16:00
O Espectador Espantado
Edgar Pêra
Longa
Bando à Parte
2016
01:10:07
Orquidea
Sandy Lorente
Curta Documentário
Calach Films
2017
00:26:00
Orson Welles
Luís Azevedo
Curta Documentário
MUBI
2018
00:05:44
Os Maiores da Minha Rua
Gabriel Coelho
Curta Ficção
ESAD Matosinhos
2018
00:07:44
Os motivos de Reinaldo
Ricardo Vieira Lisboa
Curta Documentário
Próprio
2017
00:08:00
Pe San Le
Rousa Coutinho Cabral
Longa Documentário
art8/nocturno filmes
2018
01:33:58
Pixel Frio
Rodrigo Areias
Curta Ficção
Bando À parte
2018
00:15:00
Sousa Martins
Justine Lemahieu
Longa Documentário
Ukbar Filmes
2018
01:21:20
Tempo Comum
Susana Nobre
Longa Documentário
terratreme filmes
2018
01:04:00
The art of losing
Cristina Ferreira Gomes
Curta Ficção
Mares do Sul
2018
00:39:34
Na sua célebre obra A República, Platão descreve-nos uma caverna onde seres humanos se encontram agrilhoados, não tendo nunca vivenciado nada além desse espaço concreto. Nessa mesma caverna encontra-se uma fogueira que projeta sombras da realidade exterior. Assim, tendo apenas tido contacto com essas sombras, os seres que se encontram na caverna acabam por ter como garantido que estas sejam a própria realidade. Podemos afirmar que esta descrição que o filósofo grego faz na sua Alegoria da Caverna é semelhante àquela que o público francês em 1895 sentiu quando os irmãos Lumière fizeram a sua primeira exibição do cinematógrafo com a obra L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat. Quando um comboio filmado se aproximou das margens do enquadramento da câmara, o público gritou criando uma comoção: todos sentiram que iriam ser atropelados. Não há então uma distinção entre o que é a realidade concreta e a representação desta mesma realidade. A partir daqui a ilusão do cinema, e a criação de uma suposta realidade, é perseguida constantemente, sendo impulsionada pelas inovações de cineastas como o americano Griffith, o russo Eisenstein ou mais tarde com a introdução de técnicas de procura do naturalismo na representação, como é o Método de Stanislavsky.