Konchalovsky teve como base a formação em piano no Conservatório de Moscovo, mas quando conheceu Tarkovsky logo se converteu à sétima arte. Deste encontro resultou o argumento de “Andrei Rublev” (1966). A sua insistência no realismo narrativo promoveu ainda um contacto regular com a censura soviética, tanto em “Andrei Rublev”, como, em 1967, na sua segunda longa-metragem “The Story of Asya Klyachina”, que passados 20 anos seria aclamada como a sua obra-prima. “The First Teacher”, o seu primeiro filme, foi produzido em 1964.
Konchalovsky terminaria a sua primeira incursão no “Cinema Soviético”, com o épico “Siberiade” (1979), intimamente ligado à história e cultura russas, e muito bem recebido em Cannes. Este sucesso serve de alavanca para, em 1980, o realizador russo entrar, sem grande sucesso, no cinema de Hollywood.
O seu regresso à União Soviética, nos anos noventa, traz igualmente a sua postura crítica e realista com os contextos políticos e sociais, como os retratados em “House of Fools”, com os dramas vividos por doentes psiquiátricos e soldados durante a primeira guerra da Chechénia (decorreu entre 1994 e 1996) – que lhe garantiu o Leão de Prata no Festival de Veneza, ou a análise sobre a relação e a dificuldade que a Ucrânia mantém em resistir à influência russa no documentário “The Battle for Ukraine” (2012). O forte contraste entre o desenvolvimento nas áreas metropolitanas e rurais é o foco n“As Noites Brancas do Carteiro”, docuficção que gira em torno de Aleksey Tryaptisyn, o carteiro de uma pequena localidade russa junto ao Lago Kenozero que, além da sua função/profissão, é a ponte entre a povoação e a modernização, que tarda a (ali) chegar.
A sua visão crítica sobre a história e sociedade é novamente representada em “Caros Camaradas!”, de 2020. A longa-metragem remete-nos para o contexto da greve de operários fabris de Novocherkassk de junho de 1962, quando uma funcionária do Partido Comunista lida com a gestão da revolta do proletariado e simultaneamente com os ideais democráticos da sua filha que desaparece misteriosamente aquando massacre executado pelo Exército Soviético e KGB. Estes eventos foram mantidos em segredo até aos anos 90.
“Eu percebi que seria provocativo na Rússia. As pessoas pró-soviéticas pensam que é um filme anti-soviético, e os liberais pensam que é pró-estalinista. Um escândalo. Mas não é um filme político. É sobre violência psicológica, não sobre violência física.”
— Konchalovsky sobre Caros Camaradas! em entrevista ao The Guardian
Num registo mais reflexivo Konchalovsky assinou nos últimos anos “Paraíso” (2016) que regista o encontro entre uma aristocrata russa emigrada na França que colabora com a Resistência, um francês que trabalha com os nazis e um oficial alemão de alta patente, durante a Segunda Guerra Mundial. Esses encontros servem para reformular o conceito de Paraíso. Em 2019, escreve e realiza “O Pecado”, “uma reflexão emocionante sobre a agonia e o êxtase da grandeza individual e a profunda humanidade por trás do artista Michelangelo”, estreado no Festival de Roma.
Este ciclo, sendo uma colectânea das suas obras mais recentes, é igualmente o reflexo do reconhecimento internacional e doméstico do trabalho de Andrei Konchalovsky. A Casa do Cinema de Coimbra promove este ciclo procurando sensibilizar o público para uma filmografia que espelha as preocupações sócio-políticas do panorama atual, ao explorar a relação indivíduo-comunidade, a implicação da ideologia política na vida em sociedade e, inevitavelmente, o lugar da história e cultura russa no mundo.
As Noites Brancas do Carteiro
quinta 01 set, 21:30
quarta 14 set, 16:00
sexta 23 set, 18:00
Paraíso
sexta 02 set, 18:00
quinta 08 set, 16:00
sexta 22 set, 21:30
O Pecado
sábado 03 set, 15:00
sexta 09 set, 21:30
qua 28 set, 18:00
Caros Camaradas!
quarta 07 set, 16:00
sábado 10 set, 18:00
sábado 24 set, 21:30
15:00 / 18:00 / 21:30 — Piso 0, Galerias Avenida
16:00 — Auditório Salgado Zenha, AAC
Bilhete Normal — 5€
Bilhete Reduzido — 4€
Bilhete CCP/CEC — 2€
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