Margarida Madeira no “Ensaio sobre a morte” explana a história de alguém que teme o desconhecido e a aproximação à morte. Num envolvimento dinâmico, transporta o espetador para o dilema da perda de identidade da personagem que apresenta. Com recurso à comparação a um jogo de tetris, a realizadora mostra o percurso turbulento daquele alguém que muitas vezes se aproxima de uma espécie de precipício ou, simplificando, de uma “peça” sem saída.
A perda da identidade continuou a ser ponto de focagem no “Equinócio”, de Ivo Ferreira, que remonta à região da ilha do Farol, onde muitas habitações foram derrubadas, de forma a devolver à Ria Formosa a sua natureza. Aqui ficam no ar as questões das histórias, das memórias e das identidades daquelas pessoas que abandonaram o local a que pertenceram. Ausente de diálogos, o filme coloca o espetador numa posição de observador participante, uma vez que obriga a puxar pelos sentimentos, que o conjunto de imagens nos faz transpirar.
Não menos envolvente foi “Os Mortos”, de Gonçalo Robalo. Um filme composto apenas por imagens estáticas que vão anunciando a morte das pessoas que tiveram peso na vida do realizador. Um fundo preto, com datas de cor branca marca as passagens entre as diversas caras que vamos vendo e conhecendo ao longo do filme. As passagens, pausadas, deixam espaço para que o espetador reflita sobre a problemática da morte e, ao mesmo tempo, se envolva e até se identifique com os sentimentos de perda e aproximação à morte do realizador.
A última mostra ficou a cargo do filme “Bostofrio, oú le ciel rejoint la terre”, de Paulo Carneiro. De um modo simples, a longa-metragem trata a história de um jovem realizador ruma a uma aldeia no interior de Portugal para conhecer de perto a história dos seus avós. A morte, o desconhecimento da verdadeira identidade e as memórias que vai desenterrando entre conversas com desconhecidos marcam a longa jornada pela busca da verdadeira origem.
Uma tarde marcada pela representação do sentimento de perda: não só o medo de perder aquilo que somos, mas também o medo da aproximação à morte – esta que acaba por ser o único fim a que estamos assertivamente destinados, como faz questão de marcar Gonçalo Robalo no final do filme.
Rita Ferreira