Fernando Lopes, um dos mais proeminentes cineastas da geração responsável pelo movimento “Novo Cinema Português” começou por ser um dos pioneiros da RTP, onde desempenhou numerosas funções ao longo de décadas, estreando-se na realização em 1961 com o documentário As Pedras e o Tempo e sendo o seu mais recente filme Os Sorrisos do Destino, de 2009.
Ao que parece, começará a rodar lá para Março, sabe-se lá o quê, porque não consegue fazer 2 filmes parecidos, contando com 30 títulos feitos ao longo de 48 anos, sob os temas mais diversos, mas sempre, sempre cm um inconfundível “olhar à Fernando Lopes” que os seguidores da sua a obra conhecem e amam.
Em 1972 fez um filme notável que poderá ter, até hoje, a melhor fotografia a preto e branco do cinema português: Uma Abelha na Chuva, com a direcção de fotografia de Manuel Costa e Silva.
Em 1964, fizera já o que é considerado um documentário de excelência que se mantém vivo, como se tivesse siso rodado ontem: Belarmino, a história dum ex-boxeur, do percurso desde engraxador de rua a campeão nacional e o seu regresso ao estado de miséria original, como assador de frangos na feira popular, onde eu e o próprio Fernando Lopes, conversámos com ele pela última vez.
O filme conta com uma infinidade de peculiaridades na ficha técnica e artística, desde o operador de reportagens televisivas Augusto Cabrita, outro nome a reter na nossa memória cinéfila, ao produtor António da Cunha Telles, de que ontem vimos O Cerco.
Mas passam por este documentário nomes como as fadistas Maria Teresa de Noronha e Júlia Buisel, o sax barítono Jean Pierre Gebler, Manuel Jorge Veloso como autor da música, Fernando Matos Silva como realizador assistente, Elso Roque no departamento eléctrico e de câmaras e até Baptista Bastos, como colaborador.
Mas o que faz de Belarmino um trabalho soberbo é o precioso olhar de Fernando Lopes e a ternura com que trata um looser, eternizando-o na tela como, e repetimos ”o ex-boxeur que poderia ter sido grande”.
Quem viu The Lovebirds, de Bruno de Almeida, decerto reconheceu a referência a Belarmino, quando o agora actor Lopes, no papel de realizador, chora no ombro do produtor, interpretado por Joe Berardo, numa cena imperdível e mais do que justa homenagem ao documentário que vão ver a seguir.