Crónica Retrospectiva

 

– Crónica de Opinião –

 

Como havia referido, uma das vantagens do Festival Caminhos do Cinema Português é a visão abrangente que este permite sobre o cinema nacional, seja através das críticas e prémios que atribuem aos melhores filmes nacionais feitos nos dias de hoje, seja ao formar os futuros cineastas através dos variados workshops que o CEC organiza, ou seja ainda pelo olhar que permite sobre o passado do cinema português.

 

Com efeito, esta semana têm-se realizado várias sessões de cinema (no TAGV, às 15:00) em que brilham sobre o grande ecrã as origens do cinema contemporâneo português. É o caso de filmes como “Sofia e a Educação Sexual”, a estreia do realizador Eduardo Geada, igualmente responsável por clássicos como “O Funeral do Patrão” e “Passagem por Lisboa”. Também merecem destaque realizadores conceituados como António Pedro Vasconcelos (um dos mais bem sucedidos comercialmente nos dias de hoje, tendo em conta o sucesso de filmes da sua autoria como “Os Imortais” e “A Bela e o Paparazzo”.. o Festival tem a honra de exibir um dos seus primeiros trabalhos, a longa “Perdido por Cem..”) e Fernando Lopes (cujo filme que se exibe, intitulado “O Cerco”, demonstra a clara crueza das adversidades da vida e uma jovem heroína que batalha contra as mesmas, temas que o realizador mais tarde viria a abordar em filmes como “Kiss Me” e “Pandora”).

 

Mas sobretudo o ponto vencedor da lista de filmes que compõem esta celebração das origens do cinema contemporâneo nacional é “Belarmino” (exibição esta sexta-feira, dia 19), longa-metragem documental da autoria de Fernando Lopes, que consiste numa entrevista de um pugilista em fins de carreira. O documentário é de grande importância história, não só quanto ao cinema, na medida em que o transfigurou numa vertente mais artística (a fotografia do filme é fenomenal e das melhores que se fez naquela época), como também na notoriedade do nosso país, na medida em que inspirou vários cineastas de renome internacional a criarem o que acabaram por ser obras aclamadas. Ainda hoje, a força e o poder do documentário se faz sentir, ao ponto que até mesmo a banda Linda Martini usou imagens do filme para um dos videoclips do seu último disco. Assim como o próprio Belarmino, o filme está longe de ser uma relíquia e é uma verdadeira inspiração para que o cinema nacional avance, apesar das adversidades.

 

Eis a grande vantagem deste ciclo de cinema. Embora a grande maioria dos filmes sejam provenientes da década de 70, a verdade é que ainda hoje são apreciados por muitos que deles retiram inspiração, não necessariamente ao nível de história, mas à vertente independente e artística, da qual o cinema português é orgulhoso representante. Longe de serem tralha nostálgica, estes filmes são obras de arte representantes de um espírito criativo de outrora que ainda hoje se faz sentir. Não devem ser esquecidas e merecem atenção e valor e, por isso, um grande aplauso é devido à organização do Festival Caminhos do Cinema Português, por trazer tais filmes a um grande ecrã mais próximo do público de Coimbra.