Olá muito boa noite e bem vindos aos Caminhos do Cinema Português
É com um grande prazer que vós recebemos em Coimbra!
Pode parcer que estou a sussurar numa tentativa de imitar a realização do João Viana no filme “Ò Marquês Vem cá Baixo Outra Vez”, por causa da crise, mas longe de mim estar a plagiar, esta é mesmo a minha voz trémula e nervosa.
Esta sala e aqueles que por ela ao longo de uma semana passaram podem contrariar aquilo que alguém, no uso de liberdade de expressão, que as novas redes sociais permitem, e a coberto de alguns interesses ocultos, escreveu. Reza um comentário, que não posso deixar de partilhar hoje convosco, que, e cito: “o festival Caminhos do Cinema Português é uma originalidade coimbrã que a nomenclatura cultural lisboeta despreza e que o público cinéfilo local tolera, mas não vê.”
Não conheço a realidade em que dito cidadão coimbrão vive, mas creio que não é na mesma em que este festival decorreu. Se por um lado conseguimos uma digna presença da maioria dos realizadores, produtores e demais intervenientes dos filmes a concurso, trouxemos a este palco, por via das Master Sessions, um não menor grupo de intervenientes, que muito honram e muito deveriam honrar esta cidade.
Pelo que vejo, este desprezo da nomenclatura lisboeta é então um desprezo marcado pela presença, uma presença feita à custa de sacrifícios financeiros e pessoais. Mas olhe que eles estiveram cá? Onde esteve você?
E o público, o público de Coimbra, o mesmo que vê e adere, o que esteve patente em diversas sessões. Aliás o eclectismo da programação, permitiu que os diferentes públicos pudessem ter acesso a todo o cinema português.
É esta a realidade da sociedade conimbricense? É este o apoio que alguém com responsabilidade na área da comunicação, dá a eventos de tão originalidade nacional? Não nos revemos nestes estereótipos culturais e mentalidades e continuaremos a lutar por percorrer um caminho, um caminho com o cinema português e com a cultura portuguesa, o permitir acesso aos que não querem, mas também de abrir os olhos de quem não quer.
Será sempre mais valida a opinião de um único espectador presente, do que de todo o mundo ausente.
Do comentário são efectivamente de aproveitar os adjectivos “resistentes e resilientes”, são eles que caracterizam esta equipa que me acompanhou, na presente edição, nas edições anteriores. Entre todos, os que estiveram presentes, os que se ausentaram, é lhes devida a existência deste festival.
Chegou a altura de deixar de subalternizar a nossa cultura em geral e o nosso cinema em particular.
Vítor Ferreira
Director do festival