Director da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema José Manuel Costa

Foi decisiva, e creio que será ainda mais no futuro próximo, a ideia de criar um festival dedicado a todo o percurso e a todas as vertentes do Cinema Português. Se noutros lugares é fundamental o confronto deste cinema com a produção internacional (com a qual vivemos até hoje um diálogo histórico irregular, devido às nossas próprias condições estruturais, mas, por isso mesmo, também, denotando uma não rara e forte originalidade), este é o espaço precioso, e imprescindível, para um confronto connosco próprios e com esta nossa arreigada e quase misteriosa vontade de cinema. Lançada há trinta e três anos, a ideia resistiu bem e não parou de crescer, enriquecendo-se, em particular, com o leque de áreas abordadas e com o diálogo inter-geracional. Porque é que sublinho então o seu ainda maior potencial futuro? Porque, mercê de uma conjugação de circunstâncias, entrámos agora numa fase em que o papel fundamental do cinema tout court na vida deste país pode e deve passar também por uma nova relação de todos com a história, e a prática, do Cinema Português. Sabendo aproveitar e consolidar tudo o que é já hoje a nova realidade da investigação desta história por parte de novas gerações (pela primeira vez com alguma verdadeira hipótese de profissionalização), e sabendo agora aproveitar a imensa oportunidade de divulgação proporcionada pela digitalização em alta definição (algo de que só vimos ainda o princípio, mas que, finalmente, um novo plano global, sistemático, a ocorrer nos próximos quatro anos, colocará na ordem do dia), temos perante nós a possibilidade de empreender uma verdadeira redescoberta coletiva deste cinema, numa escala geográfica e numa multiplicidade de meios nunca atingidos até aqui. Neste contexto, este festival, nascido e consolidado no centro do país, posiciona-se à cabeça como um dos mais evidentes polos potenciais de uma tal redescoberta, enquanto lugar de divulgação por si mesmo, fórum de discussão ou ponto de irradiação de experiências. Contribuamos então todos – instituições, comunidade do cinema e comunidade cultural num sentido mais largo – para que os “Caminhos” possam manter e cada vez mais reforçar esse precioso papel!