Do Literário ao Fílmico: Os Maias – Cenas da Vida Romântica

doutora maria do céu marques

Neste trabalho, procuraremos abordar algumas questões levantadas pela transposição para o cinema do romance de Eça de Queirós, Os Maias, realizada por João Botelho que esteve na origem do filme Os Maias – Cenas da Vida Romântica. Esta obra cinematográfica surgiu quatro anos após a adaptação do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, cujo sucesso inesperado encorajou o realizador a partir para mais um desafio arriscado, tendo em conta a riqueza imagética da obra e o olhar crítico do seu autor face à sociedade decadente e provinciana, que se vivia em Portugal na segunda metade do século XIX.

A vasta produção deste realizador, que nem sempre tem gerado consensos, permitiu-lhe alcançar alguns êxitos como o provam as várias homenagens prestadas e os prémios recebidos em diferentes festivais de cinema. Para além do romance incestuoso entre Carlos da Maia e Maria Eduarda, a escolha desta obra literária ficou a dever-se também ao facto de João Botelho considerar que o texto de Eça descreve “o mesmo Portugal sem sentido e sem remédio” semelhante ao atual, como revelou numa entrevista ao Jornal Público.