Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema I.P. José Manuel Costa

No início de uma nova edição dos “Caminhos” não posso senão reforçar o que disse em mensagem anterior sobre o festival na conjuntura atual. Câmara de reflexão valiosíssima sobre o nosso cinema - por uma vez apenas em confronto consigo próprio e em toda a sua imensa diversidade atual – o festival tem todas as condições para se tornar agora também um polo privilegiado de reflexão sobre o que está a mudar no conhecimento desse cinema com base na dupla circunstância do incremento de investigação (nomeadamente académica) e dos programas de digitalização em curso. Em particular, e excluindo a própria esfera de exibição de caráter museológico, a digitalização intensiva do acervo histórico conservado na Cinemateca pode ser uma arma transformadora da consciência coletiva de um património e da nossa relação com ele, e até um fator importante na reanimação da experiência social do cinema em Portugal. Que faremos nós, então, com esta espada? Como conjugaremos esforços para que os próximos anos sejam mesmo, em todo o país e fora dele, a intensa revisitação e reapreciação deste cinema que o novo quadro estrutural proporciona? E que papel específico podem os “Caminhos” ter nesta reapreciação? O facto de o arranque desta edição ser feito sob o signo de António Campos, autor fundamental mas também marginal e ainda em grande parte a descobrir, no ano do centenário do seu nascimento, é em si mesmo uma forte resposta – uma escolha certeira e um grande exemplo do que aqui se está a passar, e um bom augúrio para o que poderá acontecer no futuro. Viajar pelo Cinema Português, conhecê-lo melhor, discuti-lo mais, são outras tantas formas de nos conhecermos. Os “Caminhos” são, e podem ser cada vez mais, uma das etapas do calendário anual mais significativas e mais promissoras dessa viagem contínua.

José Manuel Costa