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Crónicas da Programação – V


17h30
O início da fase adulta implica por vezes um desmembramento da criança e do adolescente que residem dentro daquele que cresce. Idealmente feito de forma paulatina, na prática acaba por ser um salto inesperado. O bom cinema, seja ficcional ou documental, tem a capacidade de registar e mostrar – se o seu criador assim o entender – essa transferência de consciência entre a criança e o recém-adulto, que são o mesmo.

Em ‘A Casa das Mães’, Philippe Costantini guia-nos pela Casa de Santo António, onde encontramos uma série de pequenas mães (todas menores) que lidam com essas novas tarefas inerentes ao vínculo filiar que criaram. Criando objectivos de vida e desenvolvendo-a como um projecto sério, libertam-se das suas liberdades totais, para aprenderam a utilizá-las no mundo real e não protegido à posteriori.

21h30
Na primeira sessão nocturna será projectado no TAGV a primeira longa-metragem de João Salaviza. Em ‘Montanha’, seguimos o pensamento e as emoções de David, um jovem de 14 anos que é levado a passar por um crescimento e amadurecimento impostos pelos desafios causados pela morte e pela paixão. Independentemente de tudo aquilo que possa ser a interpretação juvenil daqueles conceitos, a verdade é que David é confrontado com eles, tendo que marcar a sua biografia por um crescimento célere e intenso, tornando-o homem cedo demais.

A sessão é aberta com ‘Cinza e Brasas’ de Manuel Mozos, levando-nos pelo caminho da solidão e do desvairo de uma escritora que se apaixonou, e agora se reencontra, com aquele que a influenciou na sua primeira obra.

24h00
Pela meia-noite continuamos com o nosso percurso cinematográfico, com quatro curtas que nos fazem perder entre o pensar e o agir. Destaque para ‘Yulya’ de André Marques, que viaja silenciosamente pela fragilidade emocional da protagonista. E também alguma atenção para ‘Vila do Conde Espraiada’, onde Miguel Clara Vasconcelos nos mostra um rapaz apaixonado, resultando num mesclar de vozes, músicas, imagens e pensamentos nostálgicos de outra vida que não viveu.

João Pais,
Selecção Caminhos