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Crónicas de Programação – VII


17h30
O amor e a paixão sempre foram representados no cinema. A capacidade de transferir para tela sentimentos de cumplicidade, partilha e comunhão tem-se feito de variadas formas, das mais ingénuas e jovens às mais maduras e contemplativas. Amar deve ser isso mesmo, amar de todas as formas e maneiras.
Começamos a sessão da tarde com a curta-metragem ‘Canal’, onde a realizadora Rita Nunes nos mostra o sentimento de atracção instantânea entre dois jovens, que polarizam a liberdade e a caça, ao mesmo tempo que descobrem o que é a partilha. Partilha de tempo, partilha de sentimentos, partilha daquele canal que os une por momentos e é motivo de rito de passagem num clima alentejano.
Ainda com temperatura de verão, Adriano Mendes estreia-se com ‘O Primeiro Verão’ mostrando-nos uma relação jovem, ingénua, à parte do mundo e do tempo. É oportunidade de sentir aquela estação como se da primeira vez se tratasse, com associação de novos sentimentos que se encontravam escondidos no ser emocional de ambos. Eles estão a amadurecer, conjuntamente com uma panóplia de novos conhecimentos concatenados pelo espírito de liberdade e juventude eterna dentro dos seus corações. Vindo o fim do verão, há que cuidar e manter aquilo elevado pelo mais quente do sol.

22h00
A noite começa com ‘Bodas de Papel’ de Francisco Antunez, que nos mostra um amor mais maturado do que da tarde, porém muito conturbado. Este casal celebra um género de segunda lua-de-mel, para celebrar a sua relação. Mas o amor é um ciclo imperfeito, com capacidade de ter um início e um fim, serpenteando entre dilemas e problemas com situações tão bizarras que quebram a cumplicidade e inauguram a desconfiança.
Normalmente costumamos saber o ponto de vista de apenas uma personagem, mesmo quando um filme mostra mais do que um, o que por vezes se torna extemporâneo. Não é o que ocorre em ‘Coro dos Amantes’, onde Tiago Guedes nos mostra a realidade de uma relação, onde pensamento e fala se misturam com uma conversa telepática amorosa. O pânico e o medo de perda unem esta história, num limbo entre a morte e o sonho.
A noite está associada ao mistério, é o que o espectador terá em ‘A Vida Invisível’ de Vitor Gonçalves, ao mesmo tempo que presencia um diálogo entre receio de não saber o suficiente, com a lucidez de que nunca se deve saber tudo. Simultaneamente assistimos a um filme dentro de outro, com fitas de 8mm que nos ajudam a desvendar o mistério que reside na obscuridade do próprio existir.

João Pais,
Selecção Caminhos