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Crónicas de Programação – VI


17h30
Ver cinema poderá ser catarse, seja esta pelo riso, pelo choro ou mesmo pelo medo. São esses sentimentos criados dentro do espectador, aquando da exibição de um filme, que o fazem esquecer ou cristalizar na sua memória certas obras.
Hoje continuamos com a temática do humor e comédia em português, abrindo a sessão com ‘Videoclube’ de Ana Almeida, que retrata a história de dois adolescentes que decidem, em jeito de despedida do formato VHS, distribuir tais cassetes obsoletas pelos mais fiéis cinéfilos daquele videoclube. É uma forma de homenagem ao cinema, daqueles que realmente o vivem. Em ‘Alex e Liliane’, Fernando Centeio mostra-nos um casal vencedor de um reality show, cujo prémio foi uma playstation e a possibilidade de gravarem um disco em conjunto. Encontramos um casal sete anos depois, sem noção do estado actual do mundo artístico, mais ainda com a playstation.
Encerramos a sessão da tarde com comédia pura, por parte de Nicolau Breyner, com ‘Sete Pecados Rurais’, sobre os amores e desamores dos amigos de Curral de Moinas, ao mesmo tempo que se questiona o conceito de pecado na consciência dos homens hoje em dia. É uma oportunidade do público se rir e esquecer, ao mesmo tempo que contornam tentações dos protagonistas.

22h00
A questão do terror e do fantástico no cinema português, costuma trazer-nos algumas dúvidas. Porém, esta temática acabou por nascer sozinha pelo conjunto de novas obras que foram produzidas neste contexto. Em ‘Toda a Serra tem Sua Bruxa’, os realizadores (Ana Seia Matos, Luís Belo e L. Filipe dos Santos) mostram-nos com uma curta-metragem uma terra onde a vida é dura e dependente da terra, em que a superstição é o rio que corre nesta serra. O sobrenatural entra na vida do profano, criando-nos dúvidas sobre o que é real ou não. Na curta ‘Fatale’, Dário Ribeiro deixa-nos também questões misteriosas sobre o paradeiro de uma mulher, mas vários são os desafios impostos ao protagonista.
Carlos Amaral mostra-nos um género de fim do mundo em ‘Longe do Éden’, em que um sobrevivente viaja em busca do último bastião da civilização. É uma busca exterior, mas primordialmente interior, em que sentimentos de desilusão, esperança e nostalgia alimentam este peregrino civilizacional. Sozinho também se encontra aquele que nasce diferente e distinto, no caso de forma monstruosa em ‘O Coveiro’ de André Gil Mata, numa curta de animação narrada sob a égide da lua, seguindo a tradição do terror clássico, com uma concepção totalmente poética.
Terminamos com aquela que é considerada a primeira obra portuguesa de humor negro, por Alexandre Cebrian Valente, ‘Eclipse em Portugal’. O realizador e argumentista, baseou-se numa notícia sobre um duplo assassinato em honra de uma seita satânica, que merece ser mostrado. A realidade é mais fértil que a própria ficção, e neste filme encontramos factos verídicos que influenciam uma história, mostrando revolta e manipulação pura, num país ainda recheado de crenças arcaicas e obsoletas de um possível outro mundo.

João Pais,
Selecção Caminhos