20 Anos: As Bodas de Deus

A 5 de Dezembro de 2013 integrado no Ciclo “20 Anos de Cinema Português”   será exibido,pelas 22 horas, “As Bodas de Deus” de João César Monteiro. A projecção ocorrerá no Mini-Auditório Salgado Zenha. Entrada Livre.

JOÃO CÉSAR MONTEIRO

Nascido na Figueira da Foz (1939), é uma das figuras mais relevantes do cinema português. Controverso e original como a sua obra, introduz nas suas primeiras obras o conceito de “antropologia visual”. Os seus filmes únicos ganharam um protagonismo internacional, tendo participado regularmente nos grandes festivais europeus. A trilogia do personagem João de Deus é talvez o mais consensual dos seus trabalhos – tendo o primeiro filme, Recordações da Casa Amarela, sido agraciado com o Leão de Prata do Festival de Veneza. A prestigiada revista Cahier du Cinema selecionou os outros dois filmes, A Comédia de Deus e As Bodas de Deus, entre os melhores 10 de 1996 e 1999, respectivamente.

Festivais & Prémios

– Mar del Plata Film Festival (Prémio Ombu de Oro)
– Festival de Cannes

Intérpretes

Rita Durão
Joana de Deus

João César Monteiro
João de Deus

Joana Azevedo
Elena Gombrowicz

José Airosa
Omar Raschid

Manuela de Freitas
Madre Bernarda

Luís Miguel Cintra
Enviado de Deus

Ana Velazquez
Leonor

José Mora Ramos
O Inspector Pantaleão

Fernando Mora Ramos
O Psiquiatra

Fernando Heitor
O Mordomo Vasconcelos

João Listz
Sparafucile

Jean Douchet
Bardamu

AS BODAS DE DEUS

1998, 150′

Tudo parece perdido.

É então que num velho parque solitário e gelado, duas sombras se encontram: a de Deus e a de um Enviado de Deus.

O Enviado de Deus dá ao vadio (estado provisório do pobre João de Deus) uma mala cheia de dinheiro. Missão cumprida, o Enviado vai à vida. Debaixo da árvore à beira do lago, João conta as pápulas. A água silente do lago é perturbada pela queda de um corpo. Ouvido o que se passou, vai João ver o que se passa. A jovem Joana está prestes a afogar-se. João atira-se à água retira Joana. Ministrados os primeiros e tão prontos socorros, João transporta a inanimada para um convento de freiras. Que confiança! Que aventurança!

Volta ao parque para recuperar o dinheiro contido na mala. Felizmente, aquela hora do dia, os viandantes não viandam.

Rico como Cresus, João regressa ao convento para se inteirar do estado de saúde de Joana e para, graças à sua esplêndida situação financeira, melhorar a vida do convento e a vida de Joana.

Esta serve numa creche aberta pela paróquia da aldeia, meu velho Couperin. Na boa companhia da madre Bernarda, a superiora do convento, João de Deus almoça com a madre Bernarda: cozido à portuguesa, tintamente regado.

Após a santa ingestão, conversação com Joana à beira-mar. João de Deus encontra uma romã na areia. Corta a romã irmamente e oferece a Joana uma das metades. Longo silêncio. É tudo.

Pousada de Santa Isabel em Estremoz. No quarto de João de Deus, tornado Barão de Deus, uma jovem malabarista exercita-se sem amor com três laranjas. Tanto pior!

Na cozinha do hotel, o Barão ajuda o velho pasteleiro a inscrever uma palavra gentil num bolo especialmente concebido para uma misteriosa Princesa que passa por ser o grande amor do Príncipe Omar Raschid, magnate do petróleo e jogador inveterado.

Omar Raschid e João de Deus encontram-se no bar do hotel e ficam amigos. Decidem jogar uma partida de poker no palácio da quinta do Paraíso, uma propriedade adquirida por João de Deus nos arredores de Lisboa. Omar Raschid chega ao palácio, acompanhado pela Princesa, a bela lena Gombrowciz, presumivelmente de origem polaca.

Disputada a partida de poker, Omar Raschid perde uma soma importante. É então que Elena manifesta o desejo de ser tirada à sorte. João de Deus ganha a Princesa e Omar Raschid, tendo o seu fatal destino traçado, despede-se do amor e da vida. Bom repouso.

Com o duplo propósito de divertir a Princesa e de perturbar a paz do podre do país, o Barão de Deus aproveita uma récita de “La Traviata” de Verdi, no teatro de São Carlos, para lhe conferir uma dimensão orgíaca, com ressonâncias fortemente libertárias.

Depois de tão intensas emoções é desumano que o acto nupcial entre Barão e a Princesa não chegue a consumar-se: João confessa a Elena onde guarda o dinheiro e, exausto, adormece entre os seus seios. Erro fatal. Horror, horror!

João de Deus acorda pela manhã com bestiais apetites. Demasiado tarde. Descobre que Elena desapareceu, levando todo o seu dinheiro e, pior do que isso, sem deixar pentelho. Como uma desgraça nunca vem só, uma patrulha da Guarda Republicana, coadjuvada por uma acirrada matilha de pastores alemães, vasculha a pente fino a propriedade e, num picadeiro, desencanta um verdadeiro arsenal de guerra.

João de Deus, evidentemente suspeito, é algemado e conduzido sob escolta, até um gabinete da Polícia Judiciária, onde é submetido a um interrogatório. É enclausurado em regime de prisão preventiva num ailo psiquiátrico que, aliás, conhece razoavelmente bem. Após uma entrevista com o Director da instituição, um velho conhecido para quem o seu dossier é familiar, dá-se conta, uma vez mais, que ninguém acredita na proveniência divina da sua fortuna. De resto, ele também não…

No espaço arquitectónico circular em que é fechado, julga rever o Enviado de Deus, mas este não o reconhece ou, o que vem a dar ao mesmo, finge não o reconhecer. Diz a João de Deus que é o Cristo depois da Ascensão e nega ter-lhe dado dinheiro.

No tribunal, diante dos juízes, João de Deus comete um acto de desobediência e declara-se inocente, mau grado os seus pecados. É condenado a uma pena de cadeia, durante a qual recebe a visita de Joana.

Purgada escrupulosamente a pena, Joana espera João de Deus à saída da prisão. Partem. Joana anuncia o fim da comédia.

– João César Monteiro –

Ficha Técnica

Realização e Argumento
João César Monteiro

Director de Fotografia
Mário Barroso

Som & Montagem
Joaquim Pinto

Decoração
Alfredo Furiga

Guarda-roupa
Sílvia Grabowsky

 

Direcção de Produção
Joaquim Carvalho

Produtor
Paulo Branco

Produção
Madragoa Filmes

Uma co-produção
RTP
Gemini Films

Apoio
RTP
ICAM